A necessidade de um novo modelo de concessão para a malha ferroviária da região Sul do Brasil foi o foco de uma reunião técnica realizada nesta terça-feira (8/7), em Florianópolis, com a presença dos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Santa Catarina, Jorginho Mello. O encontro também reuniu secretários estaduais, técnicos da área de logística e representantes do Paraná e do Mato Grosso do Sul.
Na audiência, foi debatido o futuro da concessão operada pela empresa Rumo, que controla 7,2 mil quilômetros de trilhos em quatro Estados. No caso do Rio Grande do Sul, a situação é crítica. Dos 3.823 quilômetros originalmente concedidos, apenas 921 estão operacionais após os danos causados pelas enchentes de 2024. A empresa já manifestou interesse em devolver parte da malha ferroviária gaúcha à União, mantendo apenas o trecho entre Rio Grande e Cruz Alta, considerado o mais rentável.
A proposta de antecipação da renovação da concessão por mais 30 anos, apresentada pela concessionária ao governo federal, é tratada com preocupação pelas equipes estaduais. Há o temor de que os valores da devolução onerosa, estimados em até R$ 2,8 bilhões, não sejam reinvestidos na região Sul, mas destinados a outros ativos da empresa em diferentes regiões do país.
Para o governador Eduardo Leite, é essencial garantir que a região Sul tenha protagonismo na definição do novo modelo. Segundo ele, não se trata apenas de defender um modal logístico, mas de impedir a desarticulação de uma infraestrutura estratégica para o desenvolvimento regional.
“A malha ferroviária gaúcha perdeu metade da sua movimentação nos últimos anos e está operando com baixa velocidade, alto custo e pouca integração. Não aceitaremos que essa concessão seja prorrogada sem compromissos concretos de investimento e planejamento. Os recursos da devolução precisam ser aplicados aqui, onde o prejuízo é real e onde há potencial de crescimento”, afirmou o governador.
Entre os encaminhamentos do encontro, foi discutida a criação de um grupo técnico conjunto entre os Estados da região Sul para acompanhar a modelagem da concessão e dialogar com o governo federal. Também foi proposta a constituição de um fundo específico para aplicação regional dos recursos provenientes da devolução dos trechos inativos.
A reunião ocorre em um momento decisivo. O contrato atual da Malha Sul expira em 2027. Os estudos conduzidos pela União ainda não consideram os impactos das enchentes de 2024, o que, segundo os governos estaduais, distorce o diagnóstico real da infraestrutura e compromete a definição das prioridades.
O Rio Grande do Sul defende, além da recuperação dos trechos danificados, a modernização da estrutura existente, a retomada de conexões interestaduais e a construção de variantes estratégicas. O objetivo é restabelecer a relevância do modal ferroviário para o transporte de cargas e reduzir o custo logístico para os produtores e indústrias do Estado.
Texto: Juliano Rodrigues/Secom
Edição: Camila Cargnelutti/Secom