Sexta, 11 de Julho de 2025
14°C 26°C
Paracatu, MG
Publicidade

Por que as charges de Maomé causam tanta revolta?

Paulo Sérgio
Por: Paulo Sérgio Fonte: DA BBC BRASIL
15/01/2015 às 10h23
Por que as charges de Maomé causam tanta revolta?

A revista francesa Charlie Hebdo publicou uma nova charge do profeta Maomé em sua primeira edição após o trágico ataque a sua redação em Paris, realizado por extremistas islâmicos que disseram estar "se vingando pelo profeta" depois que charges parecidas apareceram na publicação.

Continua após a publicidade

A nova capa mostra Maomé derramando uma lágrima e segurando um cartaz em que se lê "Eu sou Charlie", uma mensagem de solidariedade às vítimas. A imagem vem acompanhada da frase "Tudo é perdoado".

A edição especial - com tiragem recorde aumentada para 5 milhões - gerou críticas de líderes islâmicos e novas ameaças de morte contra seus funcionários, como ocorreu com um jornal dinamarquês em 2005 depois de serem publicadas charges satirizando Maomé.

Continua após a publicidade

Mas por que charges desse tipo podem ser consideradas tão ofensivas?

O que diz o Corão

Não há no texto sagrado dos muçulmanos uma proibição de que sejam retratados o profeta Maomé ou Alá, o deus islâmico.

No entanto, o verso 11 do capítulo 42 do Corão diz: "(Alá é) o criador dos céus e da terra...(não há) nada semelhante a Ele".

Isso é interpretado por muçulmanos como uma mensagem de que Alá não pode ser retratado em uma imagem feita por mãos humanas, dada sua beleza e grandeza.

Tentar fazer isso é considerado um insulto a Alá. O mesmo é aplicado a Maomé.

Os versos 52, 53 e 54 do capítulo 21 ainda afirmam: "Abraão disse a seu pai e a seu povo: 'O que são estas imagens a cuja adoração você se apega?' Eles disseram: 'Encontramos nossos pais as adorando'. Ele disse: 'Certamente, você e seus pais vêm comentendo um erro'".

Daí vem a crença islâmica de que imagens levam à idolatria - no sentido de que uma imagem, e não o ser divino que ela representa, passa a ser o objeto de adoração e veneração.

O que diz a tradição islâmica

AP

Charges publicadas na Dinamarca geraram revolta e protestos em 2005

O Hadith - histórias das palavras e ações de Maomé e seus Companheiros - explicitamente proíbe imagens de Alá, Maomé e todos os principais profetas do cristianismo e o judaísmo.

De forma mais ampla, a tradição islâmica desencoraja a retratação figurativa de criaturas vivas, especialmente seres humanos.

Por isso, a arte islâmica tende a ser abstrata ou decorativa.

A tradição islâmica sunita é bem menos severa quanto a isso. É possível encontrar reproduções de imagens do profeta, produzidas principalmente em persa no século 7.

Como se deu a polêmica em torno das charges

Houve grandes protestos no mundo islâmico em 2005 depois que o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12 charges de Maomé junto com um editorial que criticava a autocensura.

Algumas delas pareciam ser deliberadamente provocativas. Uma mostrava Maomé carregando na cabeça, em vez de um turbante, uma bomba com o pavio aceso e uma inscrição da declaração de fé muçulmana.

Muitos muçulmanos viram as charges como uma mostra de uma crescente hostilidade e medo na Europa contra adeptos do islamismo.

A retratação de Maomé e de muçulmanos em geral como terroristas foi considerada particularmente ultrajante.

Em 2011, a sede da Charlie Hebdo foi alvo de um ataque a bomba depois de ter mudado seu nome para "Charia Hebdo" - um trocadilho com "Sharia", ou lei islâmica - em uma edição em que convidava Maomé para ser seu editor-chefe.

No ano seguinte, a revista publicou uma edição com diversas charges que mostravam Maomé nu, enquanto ocorria no mundo uma revolta generalizada com o lançamento de um filme antiislã.

Um trailer do filme, Inocência dos Muçulmanos, colocado no YouTube, provocou uma série de protestos e episódios de violência em vários cantos do mundo, que, por sua vez, deixaram dezenas de mortos.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.