Sábado, 05 de Julho de 2025
13°C 27°C
Paracatu, MG
Publicidade

Centenas de pessoas lotaram a Câmara Municipal de Paracatu para pedir a regularização de imóveis

Falta de registros formais atinge mais de 50% dos imóveis locais e aflige os proprietários.

Paulo Sérgio
Por: Paulo Sérgio Fonte: Foto: Alair Vieira
12/04/2014 às 16h38
Centenas de pessoas lotaram a Câmara Municipal de Paracatu para pedir a regularização de imóveis

Moradores de Paracatu (Noroeste de Minas) cobraram a regularização fundiária de seus imóveis durante audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legisaltiva de Minas Gerais (ALMG) realizada na cidade na tarde desta sexta-feira (11/4/14). Os participantes da reunião reivindicaram a elaboração de um projeto-piloto para solucionar os problemas dos imóveis irregulares, que somam mais de 50% das propriedades no município.

Moradores e autoridades se mostraram aflitos com a situação dos registros de imóveis em Paracatu. Ao longo dos anos, diversas propriedades foram loteadas de forma irregular, sem a concessão do registro de propriedade aos compradores. Isso porque muitos desses terrenos, embora divididos e vendidos pelos proprietários originais, tiveram as vendas consolidadas apenas por meio de contratos de compra e venda. Ou seja, o proprietário-vendedor não retirou a propriedade de seu nome nem repassou cada lote para o nome dos compradores. Com isso, ao tentar regularizar o lote comprado, os novos proprietários esbarram no registro do imóvel em nome da pessoa que vendeu o lote originalmente. Essa situação persiste há anos e continua a se repetir.

Além dessa irregularidade, ainda foram relatados problemas decorrentes da entrega de títulos de terras consideradas devolutas (improdutivas e aptas à reforma agrária) sem verificar se, de fato, tais áreas pertenciam ao poder público. Algumas dessas terras já estariam registradas em nome de particulares, o que inviabilizaria a validade do título de posse concedido nesses processos.

Essa realidade, de imóveis cujo título de propriedade permanece irregular, impede, por exemplo, a contratação de empréstimos para melhorias da propriedade ou a sua comercialização, uma vez que não há como formalizar o registro legal em nome do atual dono. As perdas em arrecadação para o município também são outro problema decorrente dessa situação.

Comunidade se mobiliza pela regularização

Continua após a publicidade

Para resolver esse problema, que exige ações em todos os âmbitos de governo, os moradores de Paracatu iniciaram um amplo movimento na cidade e esperam o envolvimento de todas as esferas de poder. “O próprio cidadão com interesse de ver seu terreno regularizado tem custeado os levantamentos técnicos necessários para a legalização. Em 2013, fizemos o projeto 'Cidade Legal é Cidade Regularizada', visando a garantir soluções ágeis para essa falha histórica”, afirmou o presidente das Central das Associações Comunitárias de Paracatu, Mauro Mundim da Costa.

“Lamentavelmente várias administrações, visando a sanar o problema da moradia, limitam-se a desapropriar, lotear e abrir ruas sem emitir títulos de posse dessas áreas. Isso tem se repetido e agravado a situação", explicou o promotor Paulo Campos Chaves. "Falta também fiscalização para coibir loteamentos ilegais, pois há proprietários que apenas iniciam o processo de regularização, mas quando vendem os lotes não o concluem. O município precisa fiscalizar os loteamentos autorizados. Mas é essencial uma ação conjunta, envolvendo também o Estado, a União, a sociedade, órgãos públicos, Poderes Judiciário e Legislativo e o cartório de registro de imóveis - é um trabalho árduo e caro, porém necessário”, finalizou.

As palavras do promotor foram endossadas pela oficial do cartório de registro de imóveis da comarca, Inah Álvares. Ela também defendeu a criação de um projeto-piloto para concretizar a regularização de pelo menos um grupo de imóveis, para com isso garantir o início concreto desse processo.

Prefeitura quer agilizar processos

Segundo o secretário municipal de Assuntos Jurídicos, Rosângelo Pereira da Silva, a prefeitura está disposta a agilizar esse processo. “Em outubro de 2013, nomeamos uma Comissão para o Desenvolvimento do Plano de Regularização Fundiária, que trabalha com empenho. Já há a destinação de cerca de R$ 400 mil para regularização urbana em Paracatu. Com essa verba, acreditamos na possibilidade de regularizar mil propriedades, priorizando os seis bairros de ocupação de interesse social”, informou.

A demora nos processos judiciais, em razão das minúcias que envolvem cada caso, é outro agravante desse problema, de acordo com o juiz diretor do foro local, Antônio Fortes de Pádua Neto. “O processo judicial de regularização é por unidade de imóvel, pois não há como regularizar dois lotes num mesmo processo. Hoje um terço da distribuição dos processos em Paracatu é de usucapião. Com certeza o melhor caminho para uma solução mais ágil é a via extrajudicial, que precisa ser iniciada pelo Poder Executivo”, ponderou.

Representando a esfera federal de governo, Francisco Filomeno Abreu, do Ministério das Cidades, e Rosário Deon César Mota, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ressaltaram as bases legais, em âmbito federal, que facilitam a regularização fundiária, sobretudo em propriedades de interesse social.

O representante do Incra lamentou a desarticulação do Instituto de Terras (Iter-MG), ressaltando a importância de o Estado reestruturar os órgãos responsáveis por esse tipo de política pública. Ele também questionou a destinação de verbas estaduais para a área. “Não é só o título de propriedade, é a dignidade das pessoas que está em pauta. Espero que o Estado se empenhe para a efetiva regularização fundiária em Paracatu”, concluiu.

Mota também lamentou a necessidade de o cidadão ter de recorrer ao instituto do usucapião (ação judicial que visa ao reconhecimento legal de um direito real de propriedade), em virtude do tempo demandado e da sobrecarga que isso representa para o Poder Judiciário.

Continua após a publicidade

Deputado faz avaliação positiva da audiência

O autor do requerimento para a realização da audiência, deputado Almir Paraca (PT), fez um balanço do movimento pela regularização fundiária em Paracatu, relembrando outras audiências organizadas pela ALMG, na cidade e também em Belo Horizonte. Para o parlamentar, a reunião foi positiva, uma vez que contou com ampla participação de autoridades, além de apontar caminhos mais concretos. Ele lamentou, porém, a ausência de representante do Governo do Estado.

O parlamentar lamentou as dificuldades para a regularização fundiária, lembrando que este é um problema antigo, que vem desde a colonização do País. “É preciso trabalhar por um convênio entre Estado e município para agilizar os processos. Está claro que a organização social incentiva a formalização dos processos: este é um esforço de cidadania que pode resultar, de fato, na efetiva titulação das propriedades irregulares”, avaliou.


ALMG

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.