Os votos-fantasmas no PT de Igarapé vieram, por exemplo, de pessoas filiadas a outros partidos e de um militante que mora em Paris há três anos. Eles afirmam que não estiveram no local da votação, não souberam da eleição nem das suas assinaturas na lista.
O fato mais intrigante é o que aconteceu com Geraldo Claudino da Silva. Convites formais foram enviados para a casa dele, como atesta a viúva Luci da Silva. Geraldo Xerox, como era mais conhecido, morreu em 2005, e, mesmo assim, a sigla continua mandando correspondências para ele.
Dona Luci afirma que já chegou a ligar para o PT estadual solicitando cancelamento de correspondência e devolveu vários envelopes. No entanto, não sabe explicar como o nome do falecido apareceu na lista de votação do PT, em novembro do ano passado. Pior: o documento mostra que Geraldo votou e assinou. “Vamos entrar na Justiça contra os dirigentes do PT municipal”, desabafa a viúva.
Já o estudante Cláudio Geraldo da Silva, que vive em Paris, é filiado ao PT desde 2007. Chegou a ser membro do diretório municipal e saiu candidato a vereador em 2008. Desde essa época, nunca mais se reuniu com correligionários e afirma não ter assinado ata ou recebido qualquer convite para votar. Em 10 de novembro, ele estava na França.
“Ninguém no Brasil tem procuração para votar ou me representar em nada. Essa assinatura é grosseira e falsa, não é minha”, garante. A reportagem conversou com ele via Skype e enviou os documentos por e-mail para que ele conferisse a autenticidade da assinatura.
Para votar e ser votado dentro do PT, é necessário que o filiado esteja em dia com a contribuição partidária. Portanto, não se sabe como algumas pessoas até de outros partidos apareceram na lista como se estivessem em dia com as taxas. No processo eleitoral do PT de Igarapé, foi eleita presidente Amanda da Fonseca, que concorreu com a chapa única.
Casos. Outras pessoas, supostamente, também tiveram as assinaturas falsificadas. É o caso do técnico em tecnologia da Informação Abraão Desiderio da Silva, que mora em Brasília. “Quem tem coragem de falsificar uma assinatura falsifica qualquer coisa”, afirma ele, que relata ter estado na cidade, pela última vez, em dezembro de 2012.
A vendedora Vanilda Laurindo de Souza também assegura que não esteve no local de votação nem foi comunicada da eleição. No entanto, na lista do partido, seu nome consta como votante, ao lado da suposta assinatura. “Essa direção tem que renunciar e se justificar na Justiça”, reivindica.
Fonte: Otempo