Cidade Paracatu Barragens
MP propõe ação contra mineradora e pede na Justiça suspensão das operações e descaracterização de barragens de rejeitos em Paracatu
Barragens Eustáquio e Santo Antônio, da Kinross Brasil, têm juntas capacidade licenciada de armazenar mais de 1,2 bilhão de metros³ de rejeitos. Elas estão na área da Mina Morro do Ouro e são as duas maiores do Brasil
28/02/2023 17h42
Por: Paulo Sérgio Fonte: MPMG
Arquivo /Paracatunews

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) propôs nessa segunda-feira, 27 de fevereiro, uma Ação Civil Pública (ACP), com pedido de liminar em caráter de urgência, contra a Kinross Brasil Mineração S.A., com sede em Paracatu, na Região Noroeste do estado. O MPMG pede que a mineradora não deposite mais rejeitos nas barragens Eustáquio e Santo Antônio, de forma a não incrementar o volume de material já depositado, adote todas as medidas tecnicamente necessárias para garantir a segurança e estabilidade de todas as estruturas integrantes do empreendimento até que elas sejam integralmente descaracterizadas, além de outras medidas.

A ação foi proposta pela 3ª Promotoria de Justiça de Paracatu em conjunto com o Centro de Apoio do Meio Ambiente (Caoma).

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No entendimento do MPMG, “caso nada seja feito, sem a atuação firme do Poder Judiciário, a Kinross permanecerá em sua contínua externalização de riscos exacerbados em desfavor de toda a sociedade mineira, enquanto mantém a prática colonial de internalizar os ganhos econômicos sem investimentos adequados em formas alternativas de disposição de materiais, o que poderia melhorar a segurança humana e ambiental”, destacam os promotores de Justiça que assinam a ACP. 

As duas maiores barragens de mineração do Brasil
Desde o início do empreendimento, em 1987 pela então Rio Paracatu Mineração S/A (RPM), as atividades de mineração de ouro no local vêm aumentando exponencialmente. Atualmente, o empreendimento possui licenças ambientais que permitem, em tese, processar 61 Mt/ano de minério de ouro, conforme o Processo Conselho Estadual de Política Ambiental nº 00099/1985/076/2016 e a Licença de Operação (LO) nº 016/2018, de 24 de abril de 2018.

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Ocorre que “a atividade minerária não se encerra na mera extração do bem. Para além do material de proveito econômico, há geração de enorme quantidade de material não aproveitado, o qual é disposto em barragens de rejeitos”, ressaltam os promotores de Justiça. 

Atualmente a Mina Morro do Ouro conta com duas instalações destinadas ao armazenamento de rejeitos da etapa de flotação do beneficiamento de minérios – barragens de rejeitos – sendo a mais antiga denominada de Barragem Santo Antônio, com capacidade licenciada para 483 milhões de m³ de rejeitos, e a mais recente, a Barragem Eustáquio, com capacidade licenciada para 750 milhões de m³.

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De acordo com o MPMG, essas são estruturas com dimensões que superam os limites da aceitabilidade social e, por consequência, dos riscos admissíveis. A título exemplificativo, a barragem Casa de Pedra, sob responsabilidade da empresa CSN, no município de Congonhas, sempre comentada como sendo um exemplo de estrutura gigantesca próxima a comunidades, possui, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), aproximadamente 66 milhões de m³.

Para o MPMG, “o complexo de barragens da Kinross possui capacidade licenciada nada menos que 18 vezes a barragem Casa de Pedra, a qual é por si só geradora de intensas polêmicas. Suas dimensões, portanto, fogem totalmente do usual e da razoabilidade”, destaca a ACP.

Demais medidas requeridas pelo MPMG
Além de pedir à Justiça que a Kinross seja impedida de depositar mais rejeitos nas barragens Eustáquio e Santo Antônio e que a mineradora garanta a segurança e estabilidade de todas as estruturas integrantes do empreendimento até que elas sejam integralmente descaracterizadas, o MPMG pediu ainda que a mineradora apresente, em até 60 dias, projeto de descaracterização das barragens, contendo o cronograma de execução, o qual deverá observar as melhores técnicas disponíveis e o menor prazo tecnicamente possível, e de recuperação do meio ambiente degradado.

A Kinross deverá ainda contratar equipe de auditoria técnica independente, também no prazo de 60 dias, com o objetivo de prestar amplo auxílio aos órgãos ambientais competentes na análise do projeto e no acompanhamento de todo o processo de descaracterização das barragens Eustáquio e Santo Antônio.

Caso a Justiça aceite os pedidos feitos pelo MPMG, a mineradora deverá também: executar, integralmente, o projeto de descaracterização das barragens Eustáquio e Santo Antônio existentes em seu empreendimento; elaborar, no prazo máximo de 60 dias, diagnóstico ambiental acerca dos possíveis impactos ambientais e sociais advindos de toda e qualquer intervenção relacionada à atividade de descaracterização; elaboração de estudos e planos para mitigação ambiental, bem como demonstração de Planos de Ação de Emergência aprovados pelos órgãos competentes.

Acesse aqui cópia da Ação Civil Pública.