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Pesquisadores brasileiros vão testar vacina contra a Aids em macacos neste ano

Denominado HIVBr18, imunizante foi desenvolvido por pesquisadores de São Paulo; vantagem de testes em primatas é a semelhança com o sistema imunológico humano

Paulo Sérgio
Por: Paulo Sérgio Fonte: Foto: Associated Press
06/08/2013 às 08h33
Pesquisadores brasileiros vão testar vacina contra a Aids em macacos neste ano
Uma vacina brasileira contra o vírus HIV, causador da Aids, começará a ser testada em macacos no segundo semestre deste ano. Com duração prevista de 24 meses, os experimentos têm o objetivo de encontrar o método de imunização mais eficaz para ser usado em humanos. Concluída essa fase, e se houver financiamento suficiente, poderão ter início os primeiros ensaios clínicos.

Denominado HIVBr18, o imunizante foi desenvolvido pelos pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Edecio Cunha Neto, Jorge Kalil e Simone Fonseca. A última etapa do teste pré-clínico será realizada na colônia de macacos da espécie Rhesus do Instituto Butantan – uma parceria que envolve as pesquisadoras Susan Ribeiro, Elizabeth Valentini e Vania Mattaraia. A vantagem de fazer testes em primatas é a semelhança com o sistema imunológico humano e o fato de eles serem suscetíveis ao SIV, vírus que deu origem ao HIV. “Nosso objetivo é testar diversos métodos de imunização para selecionar aquele capaz de induzir a resposta imunológica mais forte e então poder testá-lo em humanos”, afirmou Cunha Neto.

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A primeira fase dos testes deverá abranger uma população saudável e com baixo risco de contrair o HIV, que será acompanhada de perto por vários anos. Nesse primeiro momento, além de avaliar a segurança do imunizante, o objetivo é verificar a magnitude da resposta que ele é capaz de desencadear e por quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo. Se a HIVBr18 for bem-sucedida nessa primeira etapa, poderá despertar interesse comercial. A esperança dos cientistas é atrair investidores privados, uma vez que o custo estimado para chegar até terceira fase dos testes clínicos é de R$ 250 milhões. Até o momento, foi investido cerca de R$ 1 milhão no projeto.

Pesquisa
O trabalho teve início em 2001, sob a coordenação de Cunha Neto. Em parceria com Kalil, o pesquisador analisou o sistema imunológico de um grupo de portadores do vírus que mantinham o HIV sob controle por mais tempo e demoravam para adoecer. No sangue dessas pessoas, a quantidade de linfócitos T do tipo CD4 – o principal alvo do HIV – permanecia mais elevada que o normal.

Em estudo publicado em 2010, na "PLoSOne", em parceria com a cientista Daniela Rosa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a pesquisadora Susan Ribeiro, da FMUSP, foram usados camundongos geneticamente modificados para expressar moléculas do sistema imunológico humano.

O grupo então desenvolveu uma versão da vacina com elementos conservados de todos os subtipos do HIV do grupo principal, que mostrou-se capaz de induzir respostas imunes contra fragmentos de todos os subtipos testados até o momento. “Os resultados sugerem que uma única vacina poderia, em tese, ser usada em diversas regiões do mundo, onde diferentes subtipos do HIV são prevalentes”, afirmou Cunha Neto.

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No teste mais recente, feito com camundongos e ainda não publicado, os pesquisadores avaliaram a capacidade dessa nova vacina de reduzir a carga viral no organismo. “O HIV normalmente não infecta camundongos, então nós pegamos um vírus chamado vaccinia – que é aparentado do causador da varíola – e colocamos dentro dele antígenos do HIV”, contou Cunha Neto. Nos animais imunizados com a vacina, a quantidade do vírus modificado encontrada foi 50 vezes menor que a do grupo controle. Agora estão sendo realizados experimentos para descobrir se, de fato, a destruição viral aconteceu por causa da ativação das células.

Os cientistas estimam que, no estágio atual de desenvolvimento, a vacina não eliminaria totalmente o vírus do organismo, mas poderia manter a carga viral reduzida ao ponto de a pessoa infectada não desenvolver a imunodeficiência e não transmitir o vírus. Segundo Cunha Neto, a HIVBr18 também poderia ser usada para fortalecer o efeito de outras vacinas contra a Aids.

Agência FAPESP

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