Denominado HIVBr18, o imunizante foi desenvolvido pelos pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Edecio Cunha Neto, Jorge Kalil e Simone Fonseca. A última etapa do teste pré-clínico será realizada na colônia de macacos da espécie Rhesus do Instituto Butantan – uma parceria que envolve as pesquisadoras Susan Ribeiro, Elizabeth Valentini e Vania Mattaraia. A vantagem de fazer testes em primatas é a semelhança com o sistema imunológico humano e o fato de eles serem suscetíveis ao SIV, vírus que deu origem ao HIV. “Nosso objetivo é testar diversos métodos de imunização para selecionar aquele capaz de induzir a resposta imunológica mais forte e então poder testá-lo em humanos”, afirmou Cunha Neto.
A primeira fase dos testes deverá abranger uma população saudável e com baixo risco de contrair o HIV, que será acompanhada de perto por vários anos. Nesse primeiro momento, além de avaliar a segurança do imunizante, o objetivo é verificar a magnitude da resposta que ele é capaz de desencadear e por quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo. Se a HIVBr18 for bem-sucedida nessa primeira etapa, poderá despertar interesse comercial. A esperança dos cientistas é atrair investidores privados, uma vez que o custo estimado para chegar até terceira fase dos testes clínicos é de R$ 250 milhões. Até o momento, foi investido cerca de R$ 1 milhão no projeto.
Pesquisa
O trabalho teve início em 2001, sob a coordenação de Cunha Neto. Em parceria com Kalil, o pesquisador analisou o sistema imunológico de um grupo de portadores do vírus que mantinham o HIV sob controle por mais tempo e demoravam para adoecer. No sangue dessas pessoas, a quantidade de linfócitos T do tipo CD4 – o principal alvo do HIV – permanecia mais elevada que o normal.
Em estudo publicado em 2010, na "PLoSOne", em parceria com a cientista Daniela Rosa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a pesquisadora Susan Ribeiro, da FMUSP, foram usados camundongos geneticamente modificados para expressar moléculas do sistema imunológico humano.
O grupo então desenvolveu uma versão da vacina com elementos conservados de todos os subtipos do HIV do grupo principal, que mostrou-se capaz de induzir respostas imunes contra fragmentos de todos os subtipos testados até o momento. “Os resultados sugerem que uma única vacina poderia, em tese, ser usada em diversas regiões do mundo, onde diferentes subtipos do HIV são prevalentes”, afirmou Cunha Neto.
No teste mais recente, feito com camundongos e ainda não publicado, os pesquisadores avaliaram a capacidade dessa nova vacina de reduzir a carga viral no organismo. “O HIV normalmente não infecta camundongos, então nós pegamos um vírus chamado vaccinia – que é aparentado do causador da varíola – e colocamos dentro dele antígenos do HIV”, contou Cunha Neto. Nos animais imunizados com a vacina, a quantidade do vírus modificado encontrada foi 50 vezes menor que a do grupo controle. Agora estão sendo realizados experimentos para descobrir se, de fato, a destruição viral aconteceu por causa da ativação das células.
Os cientistas estimam que, no estágio atual de desenvolvimento, a vacina não eliminaria totalmente o vírus do organismo, mas poderia manter a carga viral reduzida ao ponto de a pessoa infectada não desenvolver a imunodeficiência e não transmitir o vírus. Segundo Cunha Neto, a HIVBr18 também poderia ser usada para fortalecer o efeito de outras vacinas contra a Aids.
Agência FAPESP